Projecto: |
Fungos
arbusculares micorrízicos (AM) são fungos do solo pertencentes à ordem
Glomales (Zygomycetos), que estabelecem simbiose com a maioria (>80%)
das plantas superiores. Estas associações ubíquas datam dos primórdios da
colonização terrestre pelas plantas (à mais de 400 m.a.), muito antes
destas apresentarem raízes. É geralmente aceite que os fungos AM são
responsáveis, não só por proporcionar às plantas hospedeiras níveis
nutricionais mais favoráveis (nomeadamente de nutrientes poucos móveis no
solo como os fosfatos), mas também pela diversidade florística de muitos
ecosistemas. Dentro os fungos micorrízicos conhecidos os fungos AM tem-se
como um dos mais difíceis de estudar. Isto deve-se ao facto de serem
simbiontes obrigatórios, ou seja, até hoje não ser conhecido forma de
cultura axénica, isto é, na ausência da planta hospedeira. Esta
dificuldade constitui um importante entrave aos estudos de biologia
molecular e genética destes seres. Presentemente, os fungos AM são
cultivados em solo, ou em cultura hidropónica, com a planta hospedeira, ou
em culturas monaxénicas em simbiose com raízes transgénicas. Este último
método, apesar de bastante promissor quanto comparado à cultura em solo,
mostra recalcitrantes dificuldades que apenas poucos laboratórios
aparentemente conseguiram superar. Numa recente publicação por Schussler,
A. (2000, Glomus claroideum forms an arbuscular mycorrhiza-like symbiosis
with the hornwort Anthoceros punctatus. Mycorrhiza 10:15-21) foi
apresentada e caracterizada pela primeira vez a utilização de um Bryophyta
(Anthoceros, Anthocerothopsida) em cultura in vitro com Glomales, apesar
de não monaxénica. No nosso laboratório a utilização de Marchantia ssp. e
Lunularia ssp. (Hepaticopsida) revelam-se bastante mais promissoras que
Anthoceros na obtenção de culturas axénicas. A ancestral coevolução entre
plantas terrestres e Glomales, já presentes nos fósseis de Rhynie
(Devónico 370-380 m.a.) e anteriores ao aparecimento dos Bryophyta,
sugerem estes últimos como sendo um interessante modelo de estudo da
genómica associada à simbiose. A ausência de raízes, e concomitantemente
inexistência dos condicionalismos morfológicos destes órgãos, poderão ser
importantes no estudo da fisiologia da simbiose e na procura das razões
que levam estes fungos a ser simbiontes obrigatórios. São objectivos do
presente estudo (a) verificar se Marchantia polimorpha apresenta
associações micorrízicas Glomales, (b) estudar o comportamento in vitro de
culturas monaxénicas destas plantas.
|