Os oceanos cobrem cerca de
70% da superfície da Terra e são fundamentalmente importantes para a
espécie humana, por constituírem fontes de alimentação e uma fonte
inexplorada no que respeita às potencialidades que os seus recursos
biológicos encerram (por exemplo, descoberta de novas espécies que
possam contribuir para a formulação de novos medicamentos,
conhecimento dos recursos biológicos para a gestão dos recursos
vivos). Os oceanos são também uma componente essencial do sistema de
regulação do clima e dos ciclos biogeoquímicos na Terra. Do ponto de
vista biológico, os mares e oceanos são os ecossistemas menos
conhecidos deste planeta. A exploração adequada dos recursos
biológicos requer o conhecimento dos processos, biológicos e
físicos, que determinam o crescimento, sucesso reprodutivo e
sobrevivência das espécies de interesse comercial, em complemento
aos métodos adequados de localização e pesca. A compreensão dos
mecanismos responsáveis pelo sentido e magnitude das alterações
climáticas requer a identificação do papel desempenhado pelos
processos biológicos marinhos na sequestração ou libertação para a
atmosfera do dióxido de carbono e de outros gases com efeito de
estufa. As zonas costeiras são áreas de forte densidade
populacional, que implicam um aumento da pressão antropogénica sobre
os ecossistemas marinhos, conduzindo a um aumento das preocupações
associadas à dispersão de poluentes e à degradação dos habitats
nestes meios. Deste modo, a Biologia Marinha tem vindo a alcançar um
papel cada vez mais importante como uma das sub-áreas da Biologia
com considerável relevância e importância.
Com este
mestrado pretende-se que o formando fique com uma compreensão
aprofundada dos principais processos biológicos de produção e de
degradação da matéria orgânica que decorrem nos ecossistemas
marinhos, incluindo as interacções entre as diferentes componentes
do ecossistema marinho, o controle físico, químico e geológico dos
processos biológicos e os mecanismos de retroacção envolvidos.
Pretende-se, ainda, que o formando seja capaz de reconhecer e
interpretar a biodiversidade presente nos ecossistemas marinhos, as
principais adaptações dos organismos à vida nestes ecossistemas, e
as principais ameaças à manutenção da biodiversidade. Finalmente, o
formando deverá conhecer os principais recursos vivos marinhos,
nomeadamente os recursos pesqueiros, e ser capaz de aplicar modelos
de avaliação e de gestão desses mesmos recursos biológicos.
A
Universidade de Aveiro tem uma larga experiência acumulada no âmbito
das Ciências do Mar, integrando as várias áreas científicas, quer ao
nível de docência, quer ao nível de investigação, pelo que se
justifica plenamente a presente proposta. De facto, os Departamentos
de Biologia, Química, Geociências, Ambiente e Física têm ao longo do
seu historial leccionado diversas disciplinas desta área científica,
tanto ao nível de graduação como de pós-graduação. Os docentes
destes departamentos integram o Laboratório Associado CESAM da
Universidade de Aveiro, que tem por missão fundamental desenvolver
investigação e assegurar actividades na área do Ambiente Costeiro,
entendido de uma forma integrada envolvendo a atmosfera, a biosfera,
a hidrosfera e a litosfera. Trata-se de um Laboratório Associado com
cerca de 75 Doutorados nas várias áreas de especialização em
Ciências do Mar e do Ambiente. Este objectivo tem sido atingido pelo
desenvolvimento de programas de formação e investigação que
ambicionam, por um lado, compreender o funcionamento dos
ecossistemas marinhos e costeiros e compartimentos ecológicos e, por
outro, prever a influência das actividades humanas nestes
ecossistemas e compartimentos ecológicos. No âmbito do Laboratório
Associado o CESAM conta, para a realização da sua missão, com a
colaboração do Instituto de Ambiente e Desenvolvimento da
Universidade de Aveiro e do Instituto Hidrográfico.
a criação de
ofertas de 2º ciclo em Biologia Marinha num país como Portugal. De
facto, este apresenta a maior Zona Económica Exclusiva (ZEE) da
União Europeia, a qual se estende por 1,6 milhões de quilómetros
quadrados, superior a 18 vezes a sua área continental. Decorre neste
momento o processo de candidatura de Portugal à extensão da área da
área sob jurisdição nacional no que respeita aos recursos do solo e
subsolo marinho (Plataforma Continental), no âmbito da Lei do Mar.
Para além da ZEE cujo limite actual está fixado nas 200 milhas das
linhas de base a partir das quais se mede a largura do Mar
Territorial, Portugal poderá alargar a sua actual jurisdição até às
350 milhas, nas áreas onde tal pretensão seja devidamente
justificada. Caso a decisão venha a ser favorável, Portugal passará
a controlar uma das maiores áreas marinhas sob jurisdição nacional
do mundo. Esta vasta área alberga uma enorme diversidade de
habitats, províncias geológicas e ecossistemas, os quais suportam
uma variedade de recursos e serviços explorados ou susceptíveis de
serem explorados: pescas, aquacultura e outros recursos biológicos.
Muitos dos processos naturais que decorrem nos oceanos estão longe
de estar completamente conhecidos. Estes factos foram plenamente
reconhecidos no trabalho apresentado pela Comissão Estratégica dos
Oceanos ao Governo Nacional, que entre outras, destacou as seguintes
conclusões:
- “A área
marítima sob jurisdição nacional é dezoito vezes a área do nosso
território terrestre, e corresponde à maior Zona Económica Exclusiva
da União Europeia, pelo que Portugal é, neste sentido, não tanto um
pequeno país, mas uma grande nação oceânica”;
- “Procurar um
posicionamento do país que saiba tirar partido da sua localização
geográfica, enquanto país de fronteira entre três continentes
(Europa, África e América)”;
- “O
reconhecimento do peso avassalador do elemento marítimo, não apenas
na manutenção da nossa autonomia política, mas até na definição da
nossa índole colectiva, parece justificar por si mesmo que Portugal
deva eleger os Oceanos como elemento central da identidade que quer
consolidar e da imagem que quer projectar”;
- “É inevitável
que um modelo de desenvolvimento do nosso país passe pelo
investimento em áreas de especialização“;
- “O oceano é
indubitavelmente o mais importante recurso natural de Portugal. É
por ele, através das infra-estruturas portuárias, que nos chega a
grande maioria das mercadorias e da energia que importamos e
consumimos. A proximidade do mar é o factor determinante da
indústria turística nacional, e dele vive ainda hoje uma das maiores
comunidades de pescadores de toda a Europa. Com base na sua rica
biodiversidade poderemos vir a desenvolver prósperas indústrias”;
- “Pela pressão
da procura e da sua exploração, os recursos oceânicos tornam-se
escassos e, como acontece com todos os bens escassos, aumenta a
competição e o valor que lhes é atribuído”.